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APRECIAÇÕES CRÍTICAS
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LUCESCRIPTURA - FAZIMENTOS FOTO-GRÁFICOS DE PETER DE BRITO

De simples técnica _ revolucionária, diga-se _ a Fotografia detonou um processo, mormente afetando a pintura, que culminou com o total banimento do referente externo das faturas pictóricas, no primeiro quartel do século XX.

De simples técnica _ revolucionária, diga-se _ a Fotografia detonou um processo, mormente afetando a pintura, que culminou com o total banimento do referente externo das faturas pictóricas, no primeiro quartel do século XX. A Fotografia, signo indexical que é _ o que a fundamenta enquanto signo é a conexão dinâmica, física com o seu objeto: exige como objeto dinâmico (para utilizar a terminologia/conceitos da Semiótica Peirceana) um existente. Índice impregnado de iconicidade, tem toda a intermediação de aparatos técnicos para se corporificar signo, mas seu fundamento a coloca _ a FOTOGRAFIA _ como Índice, um segundo (todo índice traz consigo forte iconicidade: de uma impressão digital à fotografia, passando pelas pegadas de um animal no solo). Além de revolucionar os modos de elaboração de imagens, a Fotografia fascinou artistas que a utilizaram enquanto técnica de fixar momentos e, o que é mais importante, fonte inesgotável de abordagem de ângulos, alguns dos quais nunca dantes pensados. Daí é que a Fotografia-ela-mesma mostrou (antes mesmo de ser considerada algo "cult") suas possibilidades enquanto arte autônoma, em namoro ininterrupto com a pintura. No século XIX isso já é percebido: acaso e busca contribuindo para que a Fotografia adentrasse o reino das faturas que trazem consigo informação estética. Aí é que o seu caráter indexical (traz as marcas físicas de seu objeto) passa a ser secundário, porque ela aspirará à condição de hipoícone-imagem: técnica através da qual se obtêm formas, mesmo que isto implique a captação de existentes. Do mesmo modo que a Fotografia repercutiu na Pintura, esta teve sua influência naquela, desde as origens. É um toma-lá-dá-cá sem fim. Todo objeto artístico é fruto de um processo dialético, em que entram em jogo sensibilidade e racionalidade. O artista é alguém que, tendo inclinação para o trabalho com a linguagem, passa por um aprendizado para que chegue a dominar técnicas e materiais e possa fazer corporificar o objeto artístico. O fazedor (artista, poeta) faz por sentir, pensar e ter a posse da tecnologia necessária para tal. No trabalho de Peter de Brito _ artista que optou pela Fotografia como meio para fazer arte, produtor de imagens que é, podemos notar indícios de toda a tradição em que se insere: dos grandes fotógrafos artistas como Muybridge, Ródtchenko, Man Ray, a artistas-pintores que ele admira _ e com quem estabelece um diálogo _ como Leonardo da Vinci, Michelangelo, Caravaggio, Cézanne, Modigliani… O processo indexical do artista-fotógrafo, difere de um certo trabalho também indexical de Yves Klein, que se dá por contato direto, mas não difere no que há de iconicidade e informação de caráter estético. Peter de Brito caminhou do desenho e pintura para a fotografia e tem trabalhado com séries: não chega bem a esgotar uma e está pesquisando outros recursos/efeitos, em busca do incomum, numa fotografia que se distanciou da função documental para adentrar o território da beleza. Insatisfeito, ele busca. Vejam-se suas séries: EX-JACENTES e TRANSGÊNICOS que ora apresenta ao público. Nesse seu ofício de experimentador-fotógrafo, um lucescriptor, tem recuperado imagens, trazendo-as das profundezas da não-memória à tona: seres fantasmáticos como os que emergem do papel na série EX-JACENTES: uma memória visual, fragmentária como toda memória e persistente. Em TRANSGÊNICOS flagra, em configuração plástica admirável, estranhos seres _ frutos de sua manipulação enquanto criador-fotógrafo _ uma especial coleção de seres humanos-quase-in-humanos. Utilizando um mínimo de recursos (suas fotomontagens são feitas artesanalmente, assim como os especiais efeitos que se observam em algumas séries _ Peter de Brito sobreviveria numa floresta!) consegue resultados surpreendentes, o que lhe tem valido admiração tanto dos colegas artistas, como da crítica que o tem acolhido em mostras várias. O aspecto metalingüístico de seu trabalho (citações muitas, diálogo constante com artistas: a fotografia voltada para si mesma) o coloca numa tradição, da mais legítima que os modernismos e a pós-modernidade produziram: a daqueles que fazem do exercício artístico também uma reflexão sobre o fazer, uma reflexão que se centra nos códigos da visualidade. Peter de Brito, em seu constante diálogo com a tradição artística e com a natureza mesma da técnica/arte que escolheu para plasmar imagens, vem a dignificar ainda mais a já consagrada fotografia-arte. Foto-poemas é o que são verdadeiramente os seus trabalhos.

Peter Paulo Vítor de Brito nasceu em Gastão Vidigal, interior do Estado de São Paulo, em 1967. Vive e trabalha em São Paulo, capital. OMAR KHOURI 2002

 

 

 


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