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APRESENTAÇÕES
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DÉCIO PIGNATARI: UMA APRESENTAÇÃO (PUC-SP, reunião de bolsistas do Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica, realizada em 17 de abril de 1996).

 

Sempre se fala em Décio Pignatari como de alguém que tendo, despertado em Osasco, acabou por se radicar em São Paulo; porém, Décio é natural da cidade de Jundiaí, interior do Est. de SP. Figura de muitos fazeres e afazeres, Décio Pignatari exerceu o magistério, o jornalismo, foi publicitário-dono-de-agência, com algumas criações que ficaram famosas, como a da marca LUBRAX, foi e é tradutor. Mas, o que teríamos a destacar é a sua vocação, desde muito cedo, para os afazeres da POESIA. Pois é, a POESIA. Sua produção, iniciada nos anos 40, foi reunida e publicada em livro - O Carrossel, pelo Clube de Poesia ("Cadernos do Clube de Poesia"), em 1950, sendo surpreendente uma espécie de profecia que comparece na orelha do volume: "Não sendo propriamente um nome inédito - pois é conhecido colaborador da Rev. Brasileira de Poesia e dos suplementos literários paulistanos, o Sr. Décio Pignatari é todavia um dos nossos poetas mais moços e um dos que se apresentam com melhores credenciais para um destino de realizações imprevisíveis" (o grifo é meu). Embora, na época, nem tudo fosse Geração de 45 no ambiente paulistano e brasileiro, o peso da tal geração, com sua estética conservadora e mesmo reacionária dominava o cenário. Nesse meio, a poesia de Décio Pignatari já surge trazendo índices de uma revolução poética, pensada em termos universais, que eclodiria poucos anos depois, a partir da junção das forças/talentos de Décio com os irmãos Augusto e Haroldo de Campos, que formaram, ainda em inícios dos anos '50, o Grupo NOIGANDRES; seriam eles os criadores juntamente com o suíço-boliviano Eugen Gomringer, da Poesia Concreta, Movimento de Vanguarda, ainda dentro do Complexo Modernista, que teve repercussão mundial. Aí, dentro desse contexto de vanguarda, Décio Pignatari teve um papel fundamental como teórico, crítico e poeta. Como teórico e crítico, sempre se caracterizou pela contundência de suas afirmações, pela radicalidade, pensando-se como poeta brasileiro, mas fazendo parte de um contexto maior chamado Ocidente; portanto, para operar enquamto fazedor, tomou, da mesma forma que os demais poetas concretos, como medida (referência), o que o mundo havia feito até ali, para poder operar dali para frente. E foi o que fez. Produziu, de meados dos anos 50 em diante (antes, já tinha sido, como bem salientou num escrito Mário Faustino, um dos que melhor sabiam fazer versos depois do fenômeno João Cabral; e, de fato, Décio construiu poemas memoráveis em versos, como "Eupoema", "Fadas para Eni", "Noção de Pátria", entre outros) produziu, verdadeiras obras-primas, peças antológicas, num conjunto não muito numeroso, diminuto até, se formos compará-lo com a média do que normalmente produzem os poetas aqui, como no resto do Mundo; e eu citaria apenas: "terra", " beba coca cola", "LIFE", "Organismo". Esses trabalhos são parte obrigatória de qualquer antologia de poesia do século XX digna do nome e foram, juntamente com o restante de sua obra poética, reunidos em Poesia Pois É Poesia, depois Poesia Pois É Poesia Poetc. Como teórico,  juntamente com seus companheiros, em famoso texto/manifesto de 1958, deu um dos mais espetaculares tiros na tradição, aquela parte esclerosada e teimosa, dando por encerrado o ciclo histórico do verso. Décio foi professor nesta Escola, neste Programa de Estudos Pós-Graduados, desde a época em que se chamava Teoria Literária, mudando, em 1978, o nome, para Comunicação e Semiótica. Décio foi pioneiro dos estudos da Semiótica peirceana no Brasil, despertando em muitos alunos o interesse pelo assunto, tratado tão brilhantemente em aula, como tratava todos os demais assuntos. Seus estudos de Semiótica e Literatura, S e as Artes, são excelentes modelos de abordagem, abordagem que valoriza sempre o objeto de estudo: essa mesma Semiótica acabaria sendo um dos traços diferenciadores da PUC de São Paulo, dentro do panorama universitário brasileiro. Décio tem incursão, também, no campo da prosa ficcional, pertencendo a uma linhagem de ficcionistas experimentadores. Seus contos ficam sempre no limite entre prosa e poesia, poesia enquanto densidade (publicou, há alguns anos, o livro de contos O Rosto da Memória, muito pouco, ou quase nada discutido). Mais recentemente, publicou um romance experimental chamado Panteros e parece que prepara mais coisas dentro desse universo infernal, como ele mesmo diz da prosa. Conheço Décio Piganatari, pessoalmente, desde começos de 1975 (porém, já havia ficado impressionado com a defesa que fez de Rogério Duprat, num programa de TV chamado "Quem tem medo da verdade?", em fins dos anos '60, assim como me impressionou muitíssimo, dada a configuração gráfica, o poema "Organismo", publicado na revista INVENÇÃO 5, folheada por um professor,numa conferência, quando eu era ainda estudante de 2º grau) e uma das coisas que sempre me impressionaram nele, foi a capacidade de transformação, de assimilar as novas condições de ordem tecnológica (e nem precisaria dizer que foi dos primeiros artistas e intelectuais do Brasil que não tiveram problemas em conviver com os novos media, a exemplo da Televisão, sobre o qual refletiu e escreveu - seu último livro de metalinguagem publicado foi Letras. Artes. Mídia.); também é admirável, o elevado nível de sua  produção poética, sempre apresentando trabalhos que despertam interesse. Esta casa tem o privilégio de, novamente, contar com a presença de Décio Pignatari, a que quem passo a palavra:  um dos maiores criadores do século XX, que, juntamente com Cummings, possui a mais aguda percepção tipográfica da poesia contemporânea. GOD BLESS THE POET! São Paulo, 17 de abril de 1996. Omar Khouri

 

 



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