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PAULO LUDMER : FALÉSIA

 

            Todos falam. Muitos escrevem. Inúmeros pensam fazer poesia ao escrever-falar envolvidos por um sentimento de ternura. Poucos, pouquíssimos mesmo, fazem poesia, se a entendemos como a arte da palavra, por excelência. Nenhum sentimento conduz à poesia e todos o fazem desde que se seja poeta e, como escreveu Pessoa, um certo Pessoa, depois de as sensações recolhidas passarem pelo crivo da racionalidade (não o deixam mentir João Cabral e Haroldo de Campos e todos os poetas que ultrapassaram o limiar da medianidade). Melhor dizendo: somente alguém que pensa a linguagem e consegue imputar-lhe informação estética pode ser considerado poeta. Produtor de linguagem: o poeta, o que explora aquilo que de mais íntimo o idioma possui. Idioma ciumento, que só permite consigo a excepcionalidade nessa arte que remonta à forma escrita. Deixa exibir aquilo que traz potencialmente de mais precioso por meio das peças-poemas. O idioma da poesia cobra caro. No entanto, daí resultam jóias-poemas, que são o que de melhor um idioma pode oferecer. O poeta, dentre os que têm estreita relação com a língua, é quem mais consegue: com um mínimo faz um máximo. Do pouco - parcimônia na utilização de recursos - faz o muito. Em poucas linhas (uma das marcas da Lírica) cria todo um universo. A poesia lida com código comum a tantos, transformando-o em algo incomum e até mesmo raro. Chega a ultrapassar o verbal com a intromissão de outros códigos ou o faz através de processos sinestésicos. Poesia, a arte do verbal, por excelência. Poema: o território privilegiado (não exclusivo - Jakobson) da função poética da linguagem. E o poeta, seu agente, o fazedor ciente do peso-força das palavras. Labora para ninguém ou para alguém, não se sabe quem ou para toda a Humanidade. Melhor assim.
            Todas essas afirmações me vêm a propósito do novo livro de poemas de Paulo Ludmer - Falésia - fazedor contumaz que atingiu um raro nível de excelência no lidar com as palavras, criando belezas em reduzidas composições, que primam pela sonoridade potente e uma sintaxe-surpresa que vêm a suprir nossa necessidade momentânea de arte, nossa carência de forma-sentido.
            Os poemas que compõem o livro reiteram toda aquela qualidade notória e notável a que assistimos em volumes anteriores, em que até uma prosa se deixava  contaminar pela poesia. A aliteração/assonância é a figura fônica que dá o tom à obra. De outro lado, há que se notar a sensualidade/eroticidade que perpassa os poemas (em sua maioria) de uma elevação que só dignifica o fazedor e o leitor (um privilegiado, diga-se).
Difícil destacar um único poema neste livro de Ludmer, mas eu arriscaria seis: Entrementes, Aurora, Erro, Poeta, Momento, Falésia, como as peças de minha preferência (formando uma mini-antologia, passível de ser modificada a qualquer momento, já que o livro, do começo ao fim, mantém o nivel: de um qualitativo alto). Aurora, por exemplo, ilustra a já mencionada parcimônia do poeta, chegando a ser um quase-haicai.
            Nessa aventura cósmica com a palavra, Paulo Ludmer transita mormente pela melopéia e logopéia, deixando, aqui e ali, configurar-se a fanopéia (para ficarmos com a eficaz classificação de Ezra Pound). Também, lírico antes de tudo, o poeta imprime às suas peças um quê de eternidade-atemporalidade, tão encontrável na Lírica em geral.
            No mais, são poemas que pedem uma leitura em voz alta (na ordem dada pelo autor ou numa ordem outra, colocada pelo leitor): são uma boa resposta a essa época que recupera o hábito de se lerem poemas.
            Paulo Ludmer, com este novo livro, contribui para o enriquecimento de nosso acervo poético. Da economia de recursos à maximização do verbo, esta FALÉSIA chega em boa hora. CAIRE! Omar Khouri. São Paulo fev 2005

 


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