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PETER DE BRITO : AS METAMORFOSES DE UM PROCESSO DE AUTO-ABORDAGEM

 

            Resultado de muitas maquinações, esforços físicos e de uma vontade sem limites, coisa que exigiu - mobilizando cerca de dez colaboradores - 1 ano e 7 meses de labuta, AUTO-RETRATO, de Peter de Brito vem para ser mostrado e se impõe como um trabalho ao mesmo tempo sério e pleno de humor, considerando o burlesco da paródia empreendida, algo trocadilhesco em termos verbo-visuais, ou paronomástico para utlizar um vocábulo mais sofisticado, como é sofisticada a obra que ora se nos apresenta. Um retrato, um auto-retrato múltiplo, o retrato de um eu que se multiplica: 25 faces (-corpos) de uma mesma figura.
            Arte milenar, a do retrato (desenhado, pintado, modelado ou esculpido) - saindo daí o masturbatório autorretratar-se (multi-secular) - entra em crise até o seu desfazimento, com o advento da técnica de captação-elaboração da imagem, a Fotografia, a qual, a seguir, provando constituir-se linguagem, tornou-se a Arte da Fotografia, que permitiu, também, a auto-abordagem.
            Numa época que prossegue com e radicaliza as substanciais mudanças nas linguagens, o século XX assistiu ao desfazimento da figura - numa espécie de mimeseofobia - chegando à arte não-figurativa, não referencial (tendendo à auto-referencialidade) e à arte em que o conceito passa a ser o elemento  preponderante da façanha. Porém, alguns artistas provaram, com suas qualidades paroxísticas, ainda, a possibilidade do retrato: foi o caso de um Amedeo Modigliani, na 2ª década do século XX e de um artista do universo da Pop Art, atuando mormente dos anos 60 aos 80, Andy Warhol e alguns outros poucos, como Chuck Close, que retratam com vigor humanos seres.
            O trabalho de Peter de Brito, artista do desenho e da fotografia, é autônomo, porém tributário, ao mesmo tempo, de toda a tradição do retrato (do auto-retrato), do trabalho dos fotógrafos-artistas, do universo duchampiano - readymade, Rrose Sélavy, trocadilhos - e do repertório da Arte Pop.
            Os auto-retratos, num processo frenético de metamorfose, apropriam-se de capas de revistas famosas nas bancas do Brasil e se dispõem (são 25 revistas/capas de 27 feitas, de 30 projetadas) numa vitrine (-display), como numa dessas bancas comuns e incrementadas, nas laterais externas, protegidas por vidro, o que lhes dá, ao mesmo tempo, segurança e destaque: objetos atraentes e intocáveis! Aí, o trabalho ganha a dimensão de objeto e/ou  instalação. A figura-humana de Peter de Brito se configura galã, ator de filme pornô, drag-queen, noiva, socialite, vedete, esportista e outras personae, em trocadilhos visuais, casados à perfeição com os trocadilhos verbais nas capas de revistas que se metamorfoseiam: CLÁUDIA é CRÁUDIA, BRAVO! é BRABO!, CULT é CULTA, NOIVAS é DOIDAS, G MAGAZINE é P MAGAZINE, PLAYBOY é PLAYBOF e daí para diante, com os textos-chamadas a que têm direito.
            Sendo a paronomásia poética por excelência, o trabalho de Peter de Brito adentra o universo das poéticas intersemióticas e mostra que Arte e Humor podem estar unidos com um único objetivo: o de sondar o Admirável. Não há aí a disputa entre o mundo das Artes Visuais e o da Poesia propriamente: a convivência de ambos os mundos é pacífica, ocorrendo uma espécie de simbiose. Por outro lado, o teor metalingüístico do trabalho salta, dado o dialógo paródico-burlesco (já que "paródia" pode ser entendida como "canto paralelo" e esta acepção também é válida para o trabalho de Peter de Brito) que estabelece com as revistas, objeto de uma leitura especial: irônica e amorosa.
            Contando com um pequeno exército de amigos - colaboradores sensíveis - Peter de Brito, além da utilização da Fotografia enquanto técnica e arte, com película fotoquímica, fez uso de alguns programas de computador - recursos que se tornaram comuns na elaboração de capas de revistas - o que permitiu um acabamento-enquanto-imagem perfeito. A ação de um marceneiro-moldureiro completou o trabalho.
            Agora, mostrado extra-fronteira de sua casa-estúdio, o trabalho poderá ser fruído/degustado por um público-além-dos-amigos, ávido de produtos que mobilizam olhos, ouvidos, sensibilidade, inteligência. A ordem é fruir… antropofagicamente. Omar Khouri
São Paulo 23 out. 2006 (de par com o centenário do vôo do 14 Bis)                     

 


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