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ANDARILHO : EXPOSIÇÃO DE LEOPOLDO PONCE

 

 A exposição do jovem artista Leopoldo Alejandro Ponce Valdivieso, na Galeria Virgilio, cuja abertura se deu em 7 de maio deste ano de 2008 e se estenderá até o dia 30 (continuando, talvez, por mais alguns
dias) é uma quase-individual, já que o múltiplo e amplo espaço da galeria, situada à rua Dr. Virgilio de Carvalho Pinto 426, Pinheiros, São Paulo, é constituído por 4 áreas  expositivas, das quais três foram ocupadas por três artistas. Leopoldo ficou com os baixos da galeria, provavelmente por ser o mais alto dos que lá expõem agora.
Sem pretender diminuir o trabalho de outrem, Leopoldo é o artista que mais diz ali, aquele cuja aura de criador é visível e excede nos trabalhos que apresenta de modo o mais despretensioso.
       Nascido em Quito, no Equador, em 27.08.1976, Leopoldo Ponce veio para o Brasil em 1985, radicando-se em São Paulo. Esteve na Alemanha, de 1989 a 1991 onde, além do idioma aprendido, deve ter absorvido algo
daquele rigor germânico na realização de coisas. Cursou Bacharelado em Artes Plásticas no IA-UNESP, de 1996 a 2001, período em que aprendeu e pôs à prova todo o aprendido, confrontando-o com o que já havia
assimilado e, fazendo parte duma turma que se distinguiu pela inteligência, talento extraordinário e imensa curiosidade, aliada à coragem intelectual e artística, discutiu e desdisse muito do que era pedido para que dissesse.
       Mesmo que ele não venha a admitir, o período em que estudou no IA foi de fundamental importância para a sua formação. O que se discute fora da sala-de-aula (aulas práticas e teóricas) acaba sendo mais
importante do que é colocado dentro, e lá no IA, no Alto do Ipiranga, num sítio privilegiadíssimo, tudo sempre favoreceu o contato com colegas e as discussões, em ambiente configurado pela própria ação dos
alunos, num espaço que propicia a aproximação das pessoas. Leopoldo, nesse tempo todo, freqüentou inúmeras oficinas e foi espécie de assistente do artista plástico Dudi Maia Rosa, experiência que deve
ter tido grande importância para que enveredasse pelo mundo da cor.
       A primeira exposição individual de Leopoldo (só mais tarde vim a conhecer a sua produção figurativa – estranhíssima, diga-se – em desenho e pintura: nanquim, aquarela e guache, e quando vi alguns de
seus trabalhos em argila – cerâmica - percebi o quanto de rebeldia e personalidade e talento possuía o aluno-artista, desdizendo a técnica que aprendeu, deformando e conformando um trabalho outro, digno de
nota) teve lugar no Centro Cultural São Paulo, a qual visitei e ele ainda era meu aluno e eu cheguei a comentá-la em classe (Leopoldo mais pensava que falava; quase não falava, mais ouvia, nunca fez o gênero
“vida de artista”), pois me chamou muito a atenção a sua busca do expressar-se pelo precário, que se mostrava impecável, paradoxalmente, e claramente informado por Mondrian e Maliévitch. Os trabalhos que
evocavam o holandês como que o expulsavam dos limites da área de representação do papel (Leopoldo produz largamente em papel) e, em outros, vislumbrava-se o quase-nada do suprematista, com o predomínio
da não-cor preto.
       Seu TCC foi um espanto e espantado eu fiquei por ter sido convidado a fazer parte da banca examinadora, presidida pelo professor-artista Norberto Stori e tendo como convidado o pintor Dudi Maia Rosa, que
deve ter acompanhado o seu trabalho de experimentação com a cor. Leopoldo montou uma exposição, precariamente, numa das salas do IA (sua 2ª exposição individual foi na Casa da Xiclet, uma galeria
alternativa, muito-louca, em Vila Madalena, à Rua Wisard, em que trabalhos eram colocados de modo precário, não respeitando batentes de portas e janelas, nem quinas de paredes, nem cômodos da
galeria-domicílio: belos trabalhos, trazendo vivas características de uma nova fase em que formas e cores davam a tônica: cometimentos morfo-cromáticos, poder-se-ia dizer). Junto ao trabalho prático
obrigatório veio um texto teórico em que o artista apresentava o seu projeto, sem título algum, desafiando as normas da Academia, que nem era tão rígida assim, mas que poderia ter prejudicado o resultado
final. Porém, seu texto – justificando a sua práxis artística – era tão consistente, que acabou sendo aprovado com a nota 10 e nem poderia ser diferente, com tanta qualidade e uma ponta de ousadia.
       Depois, houve uma sala do Centro Cultural Mariantônia, onde Leopoldo mostrou trabalhos que eram fundamentalmente as experiências com formas e cores, mais um backlight (ocupou uma sala pequena do complexo expositivo do Centro).
       Agora, na atual fase, Leopoldo prossegue com sua pesquisa de formas e cores, incluindo materiais, que geralmente são detritos dessa nossa civilização urbana. Na exposição ANDARILHO, apresenta pinturas sobre
papel, agregação de materiais vários, backlights, pesquisa com o tridimensional e até objetos-esculturas. De chamar a atenção é uma ave de rapina, com cerca de 1m20 de envergadura, dependurada, asas abertas, toda construída com carvão: chocante! Os poucos trabalhos que compõem a mostra, dão uma medida da grandeza do artista Leopoldo Ponce e mostram a sua ânsia pela pesquisa, ao mesmo tempo em que atestam o
seu diálogo nervoso com toda a tradição moderna e pós-moderna. E, enquanto não se profissionaliza como artista, Leopoldo faz trabalhos de artesanato, monta eventos, feiras, exposições e prepara oficinas
para iniciantes nas Artes Visuais.
       Se alguém estiver procurando artistas jovens que prometem acontecer no universo das linguagens, poderá considerar Leopoldo Ponce um desses novos valores, que prometem deixar um forte rastro no universo das
Artes Plásticas, com obra apreciável e consistente, em que sensibilidade e cérebro fazem um casamento perfeito, perfazendo aquela dialética de que só os grandes artistas são capazes. Que o seu
trabalho, a partir de agora (doravante, diria minha mãe),  ganhe visibilidade e seja difundido. Salve!

 



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