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O KITSCH

 

A palavra KITSCH é de etimologia meio complicada, mas, de qualquer maneira, vem do alemão e já é utlizada, desde algum tempo, pelas pessoas de um certo repertório, em várias partes do mundo (afinal, não é só o português, mas outras tantas línguas utilizam o conceito eficaz de KITSCH). Em português, não temos palavra que dê conta de tudo o que a dos alemães abrange. BREGA: é apenas um aspecto do fenômeno. JECA. CAFONA: de origem italiana, foi muito utilizada por nós nos anos 60, é pobre.

KITSCH: existe desde tempos remotos, mas se tornou marca definidora de uma época que, emergindo com as Revoluções Industriais, elevou o consumo à categoria de valor maior. KITSCH envolve tudo: de um objeto, passando por um texto, até uma atitude. Pode existir em tudo, porém, às vezes, não se mostra tão facilmente: é uma questão de grau, a incidência. KITSCH pode ser a diluição de estruturas complexas e aí temos um barateamento, uma facilitação, como das composições de música erudita para toda a música popular (e aí teríamos vários graus de KITSCH: de Zezé de Camargo e Wando, a Chico Buarque e Caetano Veloso). Exagero/ostentação: coisa de novo rico, o qual tem todo o dinheiro necessário, mas falta-lhe repertório. Exibicionismo/intimidação (coisa para impressionar os menos favorecidos): torneiras de ouro (uso de materiais luxuosos, sem melhoria das funções - Bruno Munari). O decorativo suplantando o funcional (de uma xícara enfeitada a um texto com excesso de adjetivação). Mentira estética, como colocou Umberto Eco: como exemplo: traços modernóides numa pintura de alma (estrutura) acadêmica. KITSCH não é necessariamente mau gosto. Mau gosto é KITSCH de baixo repertório. Há KITSCH de alto repertório: certas composições musicais eruditas, poemas, pinturas. E aqui poderíamos citar Portinari, entre outros, que possuía um grande talento e domínio técnico extraordinário, mas que utilizava estilemas do cubismo sem vivê-lo e fora de época, o mesmo fazendo, quando artista já maduro, com o "Guernica", de Picasso: sua série "Bíblica" (acervo do MASP) é quase cópia da famosa obra do pintor de Málaga. Bom gosto também carrega sua parcela de KITSCH, pois gosto é coisa convencionada, portanto, redundante. Não sem razão Marcel Duchamp considerava o gosto - o bom e o mau - o maior inimigo da arte. E todos consomem arte, alguma forma ou modalidade de arte, nem que seja algo extremamente diluído. Para se perceber o KITSCH é preciso que o fruidor, o leitor, o apreciador tenha um certo repertório específico, senão, ele não estará nem aí. Consumirá gato por lebre, na maior.

Se a coisa é KITSCH, não significa que seja barata, pecuniariamente falando. Condomínios de alto luxo, concreto armado em estilo neoclassicóide: KITSCH. A tal torneira de ouro. Uma "perua" (que peca sempre pelo excesso). Uma limousine branca. A chegada, de helicóptero, em uma festa. A festa do Oscar. Casamento em Las Vegas. Todas as cartas de amor ("são ridículas", disse Pessoa/Campos). O AMOR não é KITSCH, natureza não é KITSCH. A tradução do sentimento em palavras é que é KITSCH: baba-se mel. Filosofias baratas são KITSCH. Seção souvenir em posto de beira de estrada: um museu não-intencional, um mostruário exemplar do KITSCH. O KITSCH pode ser apropriado criticamente: a obra daí resultante não é KITSCH, propriamente, mas utiliza-se do KITSCH, como no caso da POP ART estadunidense, de Warhol a Lichtenstein e Rauschenberg. A POP é grande arte.

Não devemos temer o KITSCH, pois ele impregna tudo em maior ou menor grau. É bom que tenhamos repertório para poder abordá-lo - e, por que não? - adotá-lo criticamente. Em tempo: Quanto mais básica é uma coisa, menos kitsch ela será. OMAR KHOURI



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