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COMUNICAÇÃO
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NEOLOGISMOS

 

O termo "neologismo", de origem grega, significa, literalmente, "palavra nova". Porém, envolve desde a palavra nova, propriamente, até a antiga a que se deu um novo sentido; também, as expressões criadas, as quais sempre abrigam uma metáfora. Um neologismo responde a uma necessidade do indivíduo, da comunidade, da sociedade de se expressar com maior eficácia: ou porque para algo novo (desde uma invenção, até um novo comportamento/procedimento) é preciso um novo termo, ou porque expressões antigas perderam a sua eficácia; então, necessita-se de uma nova maneira para abordar aquelas questões. Gíria é neologismo, porém condenado pelos gramáticos, onde podemos incluir os professores de português (no nosso caso específico de nossa língua): gramáticos, acadêmicos, uma certa mídia e a escola fazem o papel de polícia do idioma e sua atuação não é de todo má. Um certo controle é importante, senão cairíamos num caos total, proliferariam os idioletos (idioleto: modo particular de um indivíduo se expressar verbalmente, ou de um grupo específico: as tribos urbanas, por exemplo) e se chegaria a uma incompreensão total, insuportável. De qualquer modo, há uma fala média, há a erudita e até mesmo solene; há uma fala vulgar e aquela permeada de termos chulos: para alguém de alto repertório quanto ao verbal, é importante ter domínio sobre todos esses campos. Bem, os idiomas vivos são organismos crescentes e mutantes. Portanto, evoluem, modificam-se, mesmo que à revelia. Línguas mortas - citem-se, entre outras, o grego antigo e o latim - ficam onde pararam. A quem pertencem os idiomas? - Aos seus falantes e escreventes - e, portanto, aos seus pensantes. Por outro lado, os idiomas vivem sendo bombardeados por palavras novas (via de regra, nem tão novas assim): o caso da Informática, por exemplo: o inglês se torna onipresente e, ironicamente, com palavras, às vezes, de origem grega e latina e que passam pelo crivo da língua de Shakespeare. Não adiantam leis regulando ou proibindo palavras estrangeiras: tais leis permanecerão "letra morta". Não devemos temer novas maneiras de expressão, que entram e saem de uso. Perguntem aos seus pais e avós quais as expressões que se usavam em sua época de adolescência e juventude: tudo parecerá tão engraçado! Há pessoas que têm facilidade para inventar expressões e cunhar palavras ou introduzir novos sentidos a palavras de uso comum. Para que um neologismo se consagre é preciso que seu uso seja difundido: de boca em boca ou através das mídas - dos livros ao rádio, TV, Internet etc. Mas sua consagração definitiva se dá quando entra para o dicionário e acaba fazendo parte "oficialmente" do idioma. Geralmente nem temos idéia de quem criou determinado neologismo; de outros, é fácil saber quem introduziu: é o caso de termos e expressões criados por jornalistas, escritores, cientistas (que publicam em revistas especializadas). Eu mesmo tenho criado centenas de palavras e expressões, desde a adolescência, mas principalmente agora, na maturidade e para fins literários e/ou poéticos, com um certo teor humorístico (porém, nem sempre). Vejamos alguns: dormidouro, eroto-anorexia, erotografia, amnêmico, 14 Bis de chumbo, síndrome de Frankenstein ou de MEDENSTEIN (Medéia com Frankenstein) etc. Para se criarem palavras, há muitas maneiras, como transliterar de outros idiomas, dando uma roupagem local, tirar do nada uma seqüência fônica, emprestando-lhe um significado etc. Porém, a maneira erudita de proceder, a tida como boa pelos gramáticos é a de recorrer a radicais gregos e latinos. É o caso, entre tantos outros, de FOTOGRAFIA e CINEMATOGRAFIA (referindo-se a invenções técnicas do século XIX). A língua evolui, quer se queira, quer não. Portanto, não é recomendável o dispêndio de energia policiando-a ostensivamente. Deixe essa tarefa aos professores de línguas. Por outro lado, para fazer uma verdadeira revolução na língua-linguagem é preciso conhecê-la bem e este foi o caso de muitos escritores-artistas, como Lewis Carroll, James Joyce, Guimarães Rosa, Décio Pignatari. As investidas contra as normas ditas cultas constituiu-se numa luta travada no Brasil pelos modernistas do primeiro momento, como Oswald e Mário de Andrade, Manuel Bandeira e outros. O mais radical, teoricamente, foi Oswald que, em seu Manifesto da Poesia Pau-Brasil, de 1924, chegou a escrever: "A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos". No Brasil, ensinava-se um português como se estivéssemos no país de Camões. Ignoravam - gramáticos e professores - as transformações pelas quais havia passado o português no Brasil, desde o século XVI. Hoje, alguns poucos se revoltam contra os falares de "tribos" e contra a invasão de termos de língua inglesa (antes, era o francês a língua que povoava de termos chiques, eruditos e pedantes o português do Brasil, isto, para não falar do uso de puras expressões latinas, para impresionar os menos interados de um repertório lexical sofisticado). DEIXE O PEIXE EM PAZ! Que as pessoas possam se expressar com eficácia e conhecimento de causa. Mais grave são pessoas que têm acesso às mídias e fazem mal uso delas (e ganhando salários milionários para vomitar um português todo coalhado de erros crassos). Um português inventivo deve ser visto com admiração: do escritor-poeta ao menino que procede à desmontagem de um sistema inadequado para a sua expressão verbal, mesmo que temporariamente. A língua, embora mesma, nunca mais volta a ser a mesma.

NEOLOGISMO
M. Bandeira
Beijo pouco, falo menos ainda.
Mas invento palavras
Que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana.
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo:
Teadoro, Teodora.
 
OMAR KHOURI
 



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