apreciações críticas |
MANUEL BANDEIRA E O SONHAR POEMAS
Manuel Bandeira (1886-1968) poeta essencialmente lírico, construiu uma solidíssima obra dentro do Modernismo do Brasil. O poeta conhecia várias línguas e havia visitado praticamente toda a tradição poética do Ocidente, e alguma coisa de Oriente. Isto quer dizer que possuía um repertório invejável em termos de Poesia (um poeta se faz lendo/ouvindo outros poetas) o que lhe possibilitava, somando a tudo isso, o seu talento / sensibilidade, fazer poesia, e da melhor. Pois é, Bandeira sonhava poemas inteiros ou os concebia em estado entre o sono e a vigília - num quase delírio, eu diria. Após conceber poemas nessas circunstâncias, Bandeira ou conseguia reconstituí-los inteiros ou parcialmente. Seria possível a qualquer pessoa sonhar uma obra de arte de qualquer natureza? Poderia - alguém - sonhar um grande poema, por exemplo, ou, mesmo, um poema simplesmente bom? Eu diria que a resposta é não. A não ser que o sonhador fosse capaz de reconstituí-lo quando acordado e o tal poema continuasse bom ou excelente! Se Manuel Bandeira era capaz de sonhar bons poemas, é porque ele era capaz de fazê-los quando acordado. E sempre fez bem melhor quando acordado. O seu lindo "Oração no Saco de Mangaratiba" seria final de um longo poema, a única parte em versos regulares (eneassílabos) poema que ele concebeu num estado de semi-demência (dormência) como narra em seu Itinerário de Pasárgada. Ou seja: você só sonha mesmo um poema, quando tem repertório para sonhá-lo e até reconstituí-lo quando em estado de vigília. A inspiração, entendida como momento em que tudo contribui para que a obra se perfaça, só acontece quando a pessoa possui já a informação, quando tem repertório para isso. Intuição, IDEM: não se intui do nada: já se possui repertório e a intuição, portanto, é informada. Nada vem do nada, assim como nada garante nada. Dados emergem do Inconsciente, principalmente em sonhos: Freud colocou o sonho como a porta de entrada para o Inconsciente, mas até acordado pode acontecer um fluxo do Inconsciente (atos-falhos...). Se você vier a sonhar um poema tão lindo como aqueles de Safo que nos chegaram aos pedaços, reconstitua-o e publique-o. Divida-o com os outros mortais e… tenha bons sonhos!
|