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HISTORINHAS DE POETAS
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O POETA NECESSITA CONVERSAR?

 

            Dizem que o pior da velhice não é bem o enfraquecimento, enfeamento ou coisas por aí, mas a falta de interlocutores, coisa que - diga-se - pode até acontecer bem antes da velhice (veja-se o caso de Fernando Pessoa em Lisboa, principalmente depois que seu amigo, o poeta Mário de Sá-Carneiro cometeu suicídio em Paris, em 1916). O principal preço da longevidade é a solidão e a pior solidão é a ausência de interlocutores.
            Oswald de Andrade, o mais radical de nossos modernistas do Primeiro Momento era, além do mais um piadista que não poupava ninguém: de amigos a ex-mulheres, não perdia a piada, muito embora esta pudesse vir a lhe valer a perda de uma amizade, como foi o caso de Mário de Andrade - ninguém nunca esclarece os reais motivos da briga, mas devem ter sido as piadas de Oswald envolvendo o autor de Macunaíma, mexendo certamente com a sua sexualidade. Mário jamais perdoou Oswald, nunca aceitou reatar a velha amizade. Quando em 1945 Mário morreu, Oswald recebeu a notícia chorando, contou-me certa vez Edgard Braga que conheceu os dois e que foi muito amigo de Oswald.
            Pois é, em fins dos anos 40, Décio, Haroldo e Augusto de Campos estiveram com Oswald de Andrade, tendo sido muito bem recebidos e até foram presenteados, cada um, com exemplar das Poesias Reunidas Oswald de Andrade. Oswald chegou a escrever brevemente sobre eles num "Telefonema". O que mais se notou e continuou se notando até a morte do guerreiro O de A, foi a falta de interlocutores do poeta, o desprezo com que muitos medíocres das Letras o tratavam, a solidão  muito embora estivesse muito bem casado. Aquele declínio longe da agitação de que tanto gostava. com base nisto, parece, os concretistas aprenderam uma grande lição e resolveram não permitir que isso viesse a acontecer a eles. Décio, certa vez me disse (em verdade, chegou a dizer também outras vezes):
            - Combinamos que jamais brigaríamos, por mais que entre nós houvesse desacordos de ordem poética, para que não ficássemos - como o Oswald - sem interlocutores.
            Triste fim de um grande criador.
OMAR KHOURI

 



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