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HISTORINHAS DE POETAS
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DRUMMOND E OS CONCRETISTAS

 

            Quando, nos anos 50 do século passado, surgiu o movimento concretista, muitos figurões (não todos) se posicionaram contra aquelas ousadias que aqueles rapazes propunham e entre eles estava Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) cuja obra o coloca como um dos grandes poetas do século XX, em âmbito mundial. Mas como todo grade tem as suas mesquinhezas, Drummond não seria uma exceção. Posicionou-se contra aquela poética, porém, não livrou da influência, que rendeu alguns poemas, até importantes. mesmo não deixando as coisas baratas, o trio concretista sempre teve olhos para as grandezas de Drummond. Haroldo escreveu ensaio sobre livro do veterano, Décio fez a mais bela análise de quantas já li sobre poema do itabirano: sua "leitura" do Áporo é um modelo e coloca o poeta Drummond em alturas consideráveis. Augusto, num soneto satírico - SONETERAPIA - escreve (1º verso): drummond perdeu a pedra: é drummundano. Porém críticas não faltaram e as mais terríveis vieram da parte do mesmo Décio Pignatari, em diversas ocasiões: em verdade, bofetadas e afagos. Nos oitenta anos do poeta, não poupou críticas em artigo de suplemento da FOLHA DE SÃO PAULO, jornal em que, por ocasião da morte escreveu um artigo denominado "O enigma Drunmmond", fazendo alusão clara ao Claro Enigma, livro de poemas do poeta em questão. O enigma consistia numa pergunta que era a seguinte: Como pôde tão grande poeta ter sido um intelectual tão medíocre? Pois é, Décio é assim mesmo. Nunca deixa por mesnos, como não deixava de ter razão. E isso me fez lembrar de uma conversa que tive com ele em sua casa, então nas Perdizes, São Paulo. Lamentava ele o fato de os poetas brasileiros - onde o trio concretista não se incluía - não serem capazes de demonstrar consistência intelectual em seus escritos extra-poéticos, como havia demonstrado um Edgar Poe, um Paulo Valéry, um Ezra Pound, por exemplo. Daí, citou Octavio Paz, o poeta e ensaísta mexicano, ainda vivo na época. Disse-me: "Veja você, o Paz é um ensaísta de uma grandeza que não encontramos entre os poetas brasileiros. Ele é capaz de escrever coisas substanciais sobre culturas orientais, culinária mexicana, sobre Marcel Duchamp e Mallarmé. Drummond, por exemplo, nas crônicas que escreve, é uma lástima, não demonstra grandeza intelectual". Fez uma pausa e sentenciou: "Mas, enquanto poetada, Drummond é infinitamente superior a Octavio Paz!" Cheguei a adivinhar o que Décio iria dizer e concordava inteiramente possível. Bobagem achar que artistas - e aí incluo os poetas - não devam fazer teoria. Uma das marcas dos grandes artistas, desde o século XIX é essa capacidade  de teorizar. Evoca, aqui,  mais uma vez o poeta francês Paul Valéry, também grande teórico que, em célebre ensaio - "Poesia e Pensamento Abstrato" - afirmou que um poeta não só é capaz de pensamento abstrato, como o pensamento abstrato é condição indispensável para que ele seja, de fato, um poeta. OMAR KHOURI

 



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