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HISTORINHAS DE POETAS
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BRAGA E A PRODUÇÃO PRESENTE

 

            Edgard Pimentel Braga (1897-1985) alagoano que se radicou em São Paulo. Médico obstetra, criou fama no meio médico de São Paulo. Milhares de crianças nasceram em suas mãos, incluindo filhos de muitos poetas hoje célebres. Disse Braga que, ainda estudando, Oswald de Andrade não o deixou participar da Semana em 22, pois ele deverias cuidar é de ser médico. Verdade verdadeira ou não, Braga foi grande amigo do autor de Memórias sentimentais de João Miramar, até que este veio a falecer, em 1954 e ainda chegou a assistir o filho Paulo Marcos, menino poeta que desencarnou tão cedo! Braga se mostrou poeta desde cedo, mas sempre esteve atrás dos acontecimentos poéticos mais importantes. Publicou, além de livros de Medicina, muitos de poesia. Mas o que há de mais interessante é que Edgard Braga, à medida que foi envelhecendo, foi também aguçando a sua sensibilidade poética e ficado cada vez mais arrojado, o contrário do que comumente se vê. Acabou fascinado pela concisão que poemas poderiam ter e fez coisas como:

            ilha
            brilha
            tranqüila

ou o admirável ungarettiano:
            acordei de rolar brancura!

             A Poesia Concreta dos jovens de quem passou a ser amigo, frutificou em sua obra. Sua poesia, além da projeção que passou a ter entre os experimentalistas brasileiros, ganhou o mundo, participando de várias antologias. Mas Braga ainda faria mais: descobriria um caminho seu dentro do universo de experimentação instaurado pela poesia concreta. Seus grafismos - um grafismo "sujo" - passaram a ser a sua marca, já que traziam a incorporação do gesto. Braga conseguiu uma legião de fãs entre os muito mais jovens, em fins dos 70 e inícios dos 80: Walter Silveira, Tadeu Jungle, Arnaldo Antunes e Gilberto José Jorge, entre outros. Conheci-o em fins de 1974, por recomendação de Augusto de Campos. Sempre me tratou com a maior cortesia, chamando-me de Khouri. Cheguei a fazer, com Paulo Miranda e Sônia Fontenezi, edição de alguns de seus poemas - tão visuais - em serigrafia. Nas nossas publicações coletivas, sempre colocávamos trabalhos seus, tão apreciados por nós. Uma coisa nso espantava em Braga: enquanto poetas e mais poetas brigavam em prol do recuo das datas de seus poemas, na tentativa de provar alguma primazia, Braga chegava a raspar a data original, mais antiga para colocar, por cima data mais recente, a do ano então presente. Talvez a  necessidade de mostrar que continuava - septuagenário e mesmo octogenário - a produzir poemas. Braga chegou a produzir mais do que publicar e, sempre que desejava fazer a edição de um conjunto de poemas, o árduo trabalho de seleção ficava a cargo de alguém: geralmente um amigo poeta. Ainda guardo alguns inéditos seus com que me presenteou.

PS. Era comum, quando alguém que não o conhecesse falava de seus poemas se referisse a ele como o Jovem Edgard Braga, pensando tratar-se de um adolescente, já que alguns de seus trabalhos a partir dos anos 70, fortemente gráficos com a incorporação do gestual, assemelhavam-se a projetos para graffiti. Seus trabalhos mais importantes estão reunidos em  Soma, Algo, Tatuagens e Murograma. Desbragada, reunindo quase toda a sua produção poética merecerá uma edição mais bem cuidada graficamente. OMAR KHOURI

 



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