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HISTORINHAS DE POETAS
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INTERFERÊNCIA DOS DEUSES?

 

            Poesia, Inspiração, Musa. Como toda Arte, a Poesia resulta de um processo dialético em que, de um lado temos a pura sensibilidade e do outro a mais completa  racionalidade/cerebralismo. O poeta, ou fazedor, é o artista que tradicionalmente trabalha com palavras, elevando-as à categoria de ARTE. Para que possa vir a fazer isto, um poeta teve toda uma formação que dependeu de muito ouvido ou muita leitura de textos poéticos. Portanto, ele tem o domínio de toda uma tecnologia que lhe possibilita, de quando em quando, uma composição feliz. Contribui, ele, para o enriquecimento de sua tradição poética e os poemas são a mais elevada manifestação que o código verbal pode possibilitar. Platão colocou o poeta como alguém que recebia, via divindade, a poesia: o poeta era meramente um meio através do qual a divindade se manifestava. Uns fazedores evocavam a Musa, a começar pelo insuperável e fictício Homero. Inspiração? Bem, pouca inspiração e muita transpiração disse o cientista-inventor Thomas Edson. Inspiração só acontece para quem possui repertório e, portanto, os meios para fazer corporificar o poema. Alguns poetas colocaram a inspiração como o momento ou processo em que tudo colabora para que a obra aconteça. Todo poeta é um ser pensante, cerebral, porém há os que pensam tudo e explicitam este pensamento através do exercício da metalinguagem - não têm problemas para falar sobre seus poemas, a começar pelo querido Edgar Allan Poe (1809-1849) que, através do seu "A Filosofia da Composição", explicou o processo de feitura de "O CORVO". No Brasil, de Drummond aos Concretistas, passando por João Cabral de Melo Neto - da metalinguagem nos próprios poemas à prosa metalingüística militante. Os concretistas se caracterizaram por serem muito cerebrais. Os paulistas sempre foram acusados de cerebralismo exacerbado. Concretista paulista?! Cérebro puro! Certa vez, conversando com Augusto de Campos, sobre soluções geniais que ele encontrava para suas traduções-recriações, ele disse entre sério e brincando: "Tudo pode estar dando certo, mas se não houver uma interferência dos deuses, a coisa não acontece". E meu amigo e grande poeta - um quase desconhecido - Aldo Fortes, recentemente elogiando uns versos disse: "Um grande achado, sabe, um daqueles presentes dos deuses"… Pois é, mesmo acreditando que tudo depende do repertório e que intuição é coisa informada, não deixamos de recorrer a antigos expedientes para explicar ocorrências fora do comum em Poesia (que já é linguagem fora do que ordinariamente acontece)!
OMAR KHOURI

 



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