apreciações críticas
apresentações
arte e educação
arte etc
cultura popular
comunicação
estética
fotografia
galeria de fotos
glossário
história
historinhas de poetas
humanos seres
livros
manifestos
memória
música
paideuma
pintura
poesia
poesia: aproxime-se
polêmica
registros
revistas de invenção
semiótica
tradução


HUMANOS SERES
nomuque.net

JUDITH LAUAND

 

            Conheci-a pessoalmente só agora, de par com o aniversário do Válter (meu irmão) que me acompanhou até à sua residência, aqui em São Paulo, no bairro de Pinheiros - 09 de janeiro de 2004. Uma senhora de seus 81 anos, que me pareceu bonita e que agora se encontra com alguns problemas de saúde, inclusive uma quase total surdez, o que a incomoda, mais do que aos possíveis interlocutores. Finíssima. Das primeiras coisas que me perguntou: se eu era descendente de libaneses, porque ela era: de sírios e libaneses. Isto para mim foi uma surpresa, já que me prendia ao prenome Judith, considerando hebraica a sua origem. Uma semita árabe  cristã: grega-ortodoxa, uma herança de família - mais uma afinidade entre nós.
            Ela nasceu em Pontal, cidade próxima a Ribeirão Preto, Estado de São Paulo, no ano de 1922, e residiu por cerca de trinta anos em Araraquara. Judith Lauand: Pintora! Concretista histórica. Judith juntou-se àqueles que haviam se constituído no Grupo Ruptura (1952). Participou da Primeira Exposição Nacional de Arte Concreta (fins de 1956, em São Paulo e inícios de 1957, no Rio de Janeiro). Em sua longa carreira, nota-se primeiro um figurativismo com algo do repertório expressionista e já com uma tendência construtivista, que teve como resultante no processo evolutivo de sua obra, assim como em muitos outros, um rigorosíssimo abstracionismo geométrico, com o uso muito parcimonioso de formas e cores. Barras delimitando áreas que confuguram formas, porém, com uma ambivalência flagrante, o que pode fazer lembrar o grande Joseph Albers, provavelmente uma de suas admirações.
            Como outros concretistas, nos anos sessenta, Judith Lauand se entusiamou pela Arte Pop: um equívoco passageiro, já que acabou  retomando a linha construtiva, na qual permaneceu definitivamente.           
            Judith, pareceu-me, está em plena atividade. Cheguei a ver alguns trabalhos seus bem recentes, assim como os mais antigos, que se encontram em suas paredes. Esbocei um desejo de comprar quadros seus, porém, os possíveis preços me eram proibitivos (embora bem abaixo do  que eu esperaria), mesmo sendo ela quase uma anônima. Em verdade uma celebridade anônima (ah! o oxímoro): está em todas as histórias da arte brasileira e é conhecida por especialistas e colecionadores; por outro lado, é ignorada pelas mídias e pela população em geral. Ela me respondeu, à minha pergunta sobre se ela sobrevivia de pintura, que ensinou artes para crianças e isto lhe garantiu a sobrevivência (pareceu-me ser uma mulher solteira - não cheguei a apurar).
            Judith Lauand é dessas artistas raras, que optaram pelo mais difícil: árduo caminho das rígidas formas e cores poucas. Um pensamento por detrás do que fazem. Uma heroína, como outras tantas maravilhosas mulheres produtoras de linguagem e que se engajaram nos projetos do Modernismo mundial, como as russas e algumas brasileiras anteriores a ela. Uma grande mulher-pintora, como lindamente coloca Augusto de Campos, num incrível poema que fez recentemente para ela, mas que ela ainda não conhece, disse-me.
            Com a consciência da importância histórica de Judith, fiz dela algumas fotos, as quais espero que tenham ficado boas. Tudo nela foi além do que eu esperava, pelo pouco que, de fato, sabia a seu respeito. Como no caso de Charoux (de quem já tratei neste semanário), Fiaminghi, Sacilotto, Geraldo de Barros e outros, espero que os estudiosos sensíveis venham a colocar com clareza, no âmbito da história da arte brasileira, a importância de seu trabalho e dar-lhe publicamente o lugar que ela já tem por mérito próprio. Judith Lauand horaria qualquer História da Arte, assim como honra a brasileira. Salem!
OMAR KHOURI

 

 


Os textos presentes neste site estão protegidos por direitos autorais. A utilização é livre desde que devidamente referenciada a fonte.