apreciações críticas
apresentações
arte e educação
arte etc
cultura popular
comunicação
estética
fotografia
galeria de fotos
glossário
história
historinhas de poetas
humanos seres
livros
manifestos
memória
música
paideuma
pintura
poesia
poesia: aproxime-se
polêmica
registros
revistas de invenção
semiótica
tradução


HUMANOS SERES
nomuque.net

JULIO PLAZA

           

O artista plástico/gráfico e teórico Julio Plaza González sempre colaborou nas revistas que veicularam trabalhos de poetas da Era Pós-Verso. No caso de POESIA EM GREVE, QORPO ESTRANHO, além do projeto gráfico, cuidou de aspectos de ordem técnica, como a feitura de fotolitos, encaminhamento para a gráfica etc., o que implicava barateamento de custos. QORPO ESTRANHO 3, já é CORPO EXTRANHO e bancada pela Ed. Alternativa. Em MUDA, Plaza não teve participação no projeto gráfico, que ficou por conta de José Augusto Nepomuceno. No jornal/revista VIVA HÁ POESIA (editado e financiado totalmente por Villari Herrmann), Julio Plaza fez todo o planejamento gráfico, dentro dos limites impostos pela forma jornal. O grande conhecimento das artes gráficas, a curiosidade e a capacidade de trabalho de Julio Plaza, que promoveu inúmeros eventos, mormente os que dizem respeito a Arte e Tecnologia, já desde os anos '70, teve importância considerável no florescer poético da ERA PÓS-VERSO ("era" à qual já me referi nesta coluna).
            No que tange o livro-objeto, livro de artista, Julio Plaza é teórico e prático, tendo operado nesse universo desde os anos '60. Nos '70, entrou como co-autor (dividindo com Augusto de Campos) de obras que tiveram fundamental importância para as artes gráficas e suas relações com a poesia no Brasil: Poemóbiles, Caixa Preta  e ReDuchamp.
            Considerado inicialmente um artista plástico, com trabalho onde o conceitual e a metalinguagem têm um peso muito grande, Julio Plaza pode também ser considerado um poeta em qualquer dos sentidos implicados pela palavra, ou melhor, um maker. Lidando com palavras e imagens, criou trocadilhos surpreendentes (intersemióticos, diga-se).
            Muitos de seus trabalhos são, ou invendáveis, por não atenderem em nenhum aspecto às exigências mercadológicas, ou por serem instalações, ou, prevendo a reprodução sem perda da qualidade, dão um golpe de misericórdia na "aura", pois evitam o culto do objeto único.
            Seus títulos fazem parte dos trabalhos, chegando a desempenhar papel fundamental para a sua fruição. Num programa de TV, Décio Pignatari disse que a POESIA não era um meio de vida, mas um modo de vida; para Julio Plaza, a ARTE é um modo de vida.
            Ele é autor de uma exposição/instalação que foi das mais belas e inteligentes de quantas São Paulo já pôde assistir no século que acabou de passar: LA(O)S MENINA(O)S, na Galeria  Arte Global, em 1977: um diálogo trans-espacial/temporal com Velázquez, um outro espanhol (Julio Plaza nasceu em Madrid, em 1938. De três casamentos - que eu saiba - do primeiro, teve a filha Elisa, que reside na Espanha; nas segundas núpcias, viveu com Regina Silveira, a grande artista e tudo indicava que seria para sempre; agora, no terceiro casamento, veio-lhe um menino, Ángel, que deve estar fazendo um aninho). Artista raro, Plaza quase não faz. Tem horror ao gênero que alguns artistas fazem. Não suporta redundância. Aposentado da ECA-USP e afastado da UNICAMP, viaja, elabora, de vez em quando, algo ligado às mais avançadas tecnologias e curte o seu filho. Sua presença no Brasil honra a todos nós que valorizamos a qualidade artística e o rigor. OMAR KHOURI

MAIS SOBRE JULIO PLAZA

            Julio Plaza González - Madrid 1938 - São Paulo 2003. Quase nada sei de sua formação primeira. Sei, sim, que ele aprendeu de tudo dos fazeres e afazeres das Artes, tendo tido um domínio artesanal raro, o que jamais lhe subiu à cabeça, inquieto que era, apresentando, ao longo de pelo menos trinta e cinco anos - que é o que sei dele com certa segurança - uma grande variedade de interesses, porém sem ecletismo e sempre norteado pelo rigor. Às vezes, pareceu mais suíço que suíços; em outras deixou vazar sua cultura latina-hispânica.
            Sem graduação completa (que deveria ter sido feita na Espanha) pôde cursar a pós-graduação em Comunicação e Semiótica, na PUCSP,  por notório saber. Notório-e-notável-saber. Além de técnicas, métodos e  materiais, Julio Plaza possuía grande conhecimento da História da Arte. Pouco falava e grande falava era num portunhol pleno de afirmações chocantes. Longe do lugar-comum, Plaza dava a impressão de estar sempre a descobrir o mundo: como na época em que, enamorando-se do código verbal, deliciava-se com anagramas e paronomásias.
            Do que pude ver de sua produção - e deverei pesquisar mais, daqui para diante - detectei momentos nítidos, os quais chegam a se entrelaçar e que deverão servir como tema para futuros pesquisadores:
1. A fase construtiva, em que a abstração geométrica (bi e tridimencional/tridimensionável) dá a tônica.
2. Os trabalhos em parceria com Augusto de Campos: três (Poemóbiles, Caixa Preta e Reduchamp) mais um que quase não chegou a sair do projeto: o Inferno de Wall Street, de Souzândrade (do qual cheguei a ver uns ensaios em casa de Julio Plaza). Uma minha orientanda de Mestrado, do IA-UNESP - Daniele Gomes de Oliveira - está trabalhado este tema.
3. Metalinguagem: a que comparece em seus trabalhos artísticos - a arte na arte - e em seus textos teóricos: do vídeotexto às poéticas digitais.
4. Reprodutibilidade: como um valor que veio a possibilitar a um número muito maior de pessoas o acesso a obras de alto nível. Ou seja, a elaboração de trabalhos que poderiam ser reproduzidos, sem perda de informação estética.
5. Sua colaboração com revistas de poetas intersemióticos: de CÓDIGO (pesquisa muito bem realizada por meu ex-orientando Felipe Martins Paros) a ARTÉRIA e QORPO ESTRANHO, além das que ele ajudou a editar e/ou elaborar o projeto gráfico.
6. Livro de artista: e ele não só realizou alguns importantes trabalhos nesta área, como teorizou sobre o assunto, elaborando uma classificação.
7. O encantamento pelas palavras: jogos anagramáticos e paronomásicos (trocadilhescos).
8. Tradução intersemiótica, tese que ele desenvolveu a partir de uma preciosa dica do lingüista Roman Jakobson.
9. As novas tecnologias: videotexto, holografia, computador, foram-se tornando recursos corriqueiros na vida de Julio Plaza. Foi pioneiro, no Brasil, na utilização do videotexto como instrumento para a arte.
10. O conceptualismo que perpassa toda a sua obra.
            A partir de agora, tem início, de fato, uma avaliação da obra de Julio Plaza. Pesquisas começam a ser feitas, tendo o artista como principal objeto e sondando sua influência sobre mais que uma geração de artistas em São Paulo, dada a sua atividade como docente na FAAP e na ECA-USP. Julio Plaza chegou a ensinar em Porto Rico.
            Unindo Maliévitch e Duchamp, Mondrian e a POP ART mais tecnologia-de-ponta, Julio Plaza construiu uma obra - com não muitos trabalhos - que acabou sendo um presente para o Brasil. Julio Plaza González. Aguardando uma grande exposição de seus trabalhos…

Em tempo: A Mostra Anual dos Alunos da FAAP, fins de 2004, homenageou, desta vez, Julio Plaza, com a re-montagem do trabalho L(O)(A)S MENIN(O)(A)S, obra conceitual-clara-alusão-a-Velázquez. OMAR KHOURI 

 

 


Os textos presentes neste site estão protegidos por direitos autorais. A utilização é livre desde que devidamente referenciada a fonte.