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DE OLHO (-OUVIDO) NO VÍDEO

 

Sim. Constitui-se num antigo e falso problema aquele de que a tecnologia rouba o lugar do 'humano'. E mais: o que acontecerá com a Arte no futuro? Será destruída pela tecnologia? Invasão de ETês ou evasão de vocês? Até parece que as tais tecnologias sejam artifícios transplantados do planeta Saturno, entrando como um corpo mais que estranho nas sociedades humanas. Artifícios sim, porém, criados pelos próprios humanos, respondendo a necessidades específicas, ou induzidas por um acaso construtor. As tecnologias são parte integrante disso que se chama Cultura e resultam justamente da capacidade que o ser humano tem de compensar suas carências. Da mesma forma, mensagens que veiculam informação estética respondem a necessidades específicas. Estão nos objetos de arte: do poema à vídeo-instalação, passando pelos graffiti e facturas que envolvem imagens infográficas. É a linguagem em estado de poesia, em estado de arte. Toda arte utiliza tecnologia: esse domínio é importante para que o objeto se conforme, se plasme no tempo-espaço: das pinturas nas cavernas aos poemas inscritos com raios laser. Os artistas, em todos os tempos, valeram-se das tecnologias disponíveis para corporificar as suas idéias. Idéias? Vídeos não se fazem com idéias, mas com imagens em permanente estado de mutação/movimentação - tal qual o rio heraclitiano - com ou sem cores, reforçadas por sons ou prescindindo destes. É preciso que as idéias se manifestem através de imagens videográficas, incorporando - inclusive - os ruídos inerentes ao meio-linguagem. O vídeo, já disponível como tecnologia há algumas décadas, continua na ordem-do-dia, absorvendo sofisticações que vêm dos avanços na área das tecnologias digitais. Vídeo: fatura artística intersemiótica, por excelência. Embora não seja uma obrigatoriedade, a duração curta responde a necessidades do hoje, em que não há disponibilidade de horas ou mesmo dias para a fruição de uma única obra. Brevidade tornou-se uma palavra-chave. Uma prática recomendável. Numa época em que todas as tecnologias se encontram à disposição dos fazedores - de remotas eras, até hoje - o vídeo-ele-mesmo ou compondo com outras linguagens-meios um complexo que pode ser uma instalação, dá respostas adequadas à necessidade que a nossa psykhé tem de mensagens portadoras de informação estética. Necessidade de Arte, que se corporifica nos objetos artísticos. Uma dentre as muitas opções de ferramentas/tecnologias, o vídeo atende a muitos dos requisitos de uma época que quer imagem em movimento e som sintonizado com o processar-se das coisas. Para quem lida com a elaboração de imagens, as possibilidades oferecidas pelo vídeo (videoarte) vêm a calhar: cinema sem ser cinema, o vídeo é escrita desenhada no ar pela câmera e, enquanto escrita-desenho, acasala-se com a dança. A técnica do corte borrifa formas-cores, de dentro para fora: chuva eletrônica a nos massagear a retina. A concentração e dispersão da atenção, definidas pela visão centrada na telinha (ou telão) e a visão periférica afetada por outras imagens. Na disputa, ganha a imagem reticulada que, parece, está com os dias contados (a retícula). Vídeo: um recorte, uma delimitação dentro do nosso campo de visão. O som. O som? O som simplesmente aparece, adentra, invade. Videoarte: campo firmado e aberto, que convida à experimentação. Tecnologia cada vez mais acessível. Numa época em que a dificuldade de selecionar, de discernir é agravada pelo excesso, pela avalanche de dados envolvendo linguagens muitas, apelando - mormente na megalópole - para os nossos sentidos todos, o vídeo, ou melhor, a videoarte nos dá, em minutos, comprimidos de informação com teor estético. Mata nossa sede do inútil-essencial. Informação de encher os olhos. E - quem sabe? - os ouvidos. Afine o olhar. Foque os ouvidos. Vide o vídeo. Vide-o-poema. Videoarte. Sim. OMAR KHOURI
 
 

 


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