apreciações críticas |
BOSSA NOVA
Em um artiguete sobre São Paulo, neste mesmo semanário, referi-me ao Rio de Janeiro como cidade que vinha, desde a 2ª década do século XX (século passado!) perdendo a hegemonia cultural para a Paulicéia e que, das coisas notáveis que a Cidade Maravilhosa havia produzido, em termos de "movimento", teria a destacar, apenas a BOSSA NOVA. Continuo a pensar quase assim, porque acrescentaria, nas Artes Plásticas, o Neo-Concretismo que, diga-se, não é superior ao Concretismo paulista, mas, da mesma forma, grande. E o Neo-Concretismo, puxado pelo poeta mara-nhense Ferreira Gullar, apresenta-se como uma dissidência da Arte Concreta Brasileira, que àquela altura, 2ª metade dos anos 50, possuía a cara de São Paulo (e os paulistas, freqüentemente, eram acusados de serem por demais racionalistas, cerebrais). Bem, a Bossa Nova nasceu na Zona Sul do Rio de Janeiro e teve em São Paulo uma receptividade sem par. Interessante relembrar que o pirajuiense Tito Madi, uma das vozes mais contidas e bonitas da música popular brasileira, residindo no Rio de Janeiro, entra como um dos precur-sores daquela tendência musical. Época linda na memória daqueles que a têm - para me referir à Bossa Nova algo pessoanamente. Para alguém que gostaria de começar a entender um mínimo de Bossa Nova eu indicaria apenas cinco canções (que depois serão cinqüenta ou mais): 1. Chega de Saudade . Jobim-Vinicius Jobim, como se vê, está em todas e será um dos músicos mais tocados no mundo, depois da conquista dos EUA pela Bossa Nova, a partir de inícios dos anos 60. Seu disco com Sinatra é magnífico e demonstra o como a Bossa Nova, que nasceu sob a influência do Jazz (do cool jazz) se casava bem com o espírito estadunidense. Excelente letrista Newton Mendonça, que teve morte prematura. Vinicius, que já era uma celebridade dentro da poesia erudita, diplomata, acabou sendo o maior dos letristas da Bossa, tendo em Jobim seu melhor parceiro. O próprio Tom Jobim chegou a fazer letras belíssimas para suas canções (entre outras, a tardia e deliciosa "Águas de Março"). Volta e meia entra na moda a curtição da Bossa Nova. João Gilberto é festejado dentro e fora do Brasil por um público refinadíssimo. João mostrou, como alguns já vinham percebendo - dentro e fora do Brasil - que a tecnologia existente à época possibilitava performances vocais sutis como a sua, não necessitando o cantor de volume considerável para se fazer ouvir e trazia, com a batida de seu violão, originalidade à nova onda. Isto é o que muita gente que se considera cantor, hoje, não compreende, quando se aventura a cantar as acima referidas peças antológicas. São muitos os nomes que podem entrar numa História da Bossa Nova: dos precursores, passando pelos protagonistas, aos filhos da Bossa. Porém, na sua configuração diferenciada dentro do universo da Música Popular, bastaria citar dois nomes mais um: Tom Jobim, João Gilberto mais Vinicius de Moraes. OMAR KHOURI
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