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RANCHINHO : PRESENTE DE DEUS

             

            Sebastião Theodoro o seu nome. Ranchinho porque - esclarece seu sobrinho Juvenil - viveu durante algum tempo em uma casa muito modesta, um ranchinho. O apelido, antes detestado, passou a ser aceito e adotado pelo pintor. Ranchinho descobriu na pintura a sua maneira de dialogar com o mundo.
            Vi pinturas suas pela primeira vez no setor ARTE POPULAR da exposição dos 500 ANOS realizada em São Paulo, no Parque do Ibirapuera e fiquei impressionado: num desenho vigoroso, uma pintura forte! voltei mais duas vezes à mostra  e fui ver os seus trabalhos. Nasceu daí o meu interesse. Havia naqueles trabalhos, além de talento, o que chamo de "inteligência artística".
            Daí, então, fui descobrindo que muita gente o conhecia ou sabia dele: A Profa. Claudete Ribeiro, que havia morado por muitos anos em Assis - cidade onde atuou o pintor - meu aluno Vanderlei Lopes Richarde, grande desenhista, nascido em Assis, Jorge Anthonio e Silva, estudioso e crítico de arte, que possuía um seu trabalho… Foi então que me lembrei de uma conversa que tive com minha colega Marina Goldman, que havia feito referência a um pintor, de quem possuía trabalhos, que agora eu sei: era Ranchinho.
            O que me haviam dito é que meu interesse vinha tardiamente, já que o artista havia morrido há mais de dois anos. Lamentei. As imagens sempre voltavam à minha cabeça. Foi então que agora, em fevereiro, dia 21, quarta feira, estando no Instituto de Artes da UNESP com a Profa. Claudete, eu disse: "Claudete, tinha algo a lhe perguntar, mas não me lembro o que. Não era sobre o Ranchinho, penso". Ela me olhou com um ar entre espantado e contente, dizendo: "Omar, você nem sabe: encontrei o Ranchinho no Shopping, em Assis. Ele está vivo! Em verdade, ele tinha estado doente um tempo e deixado de pintar, mas está bem e pintando". Nem saberia dizer como fiquei feliz com a notícia. Sabendo que estaria em Pirajuí na semana seguinte (Carnaval) dispus-me a dar uma chegada em Assis. Claudete me deu o telefone de Oscar D'Ambrosio, pessoa que me forneceu as coordenadas para executar a empreitada.
            Em Pirajuí, pensei em alugar um táxi, mas Heloísa Leal Lopes se dipôs a levar-me até Assis, que eu já conhecia de outras vezes e outros motivos. A marca da viagem foi um calor insuportável (mas que suportamos) na segunda-feira, dia 26 de fevereiro. Fomos, eu e Heloísa (tinha já estabelecido contatos através do telefone) recebidos pelo sobrinho do pintor e, em seguida, pelo próprio. Recebeu-nos, Ranchinho, alegre como uma criança, mostrando quadros, fotos, livros. Estava incansável na recepção às suas visitas. Eu olhava as dezenas de quadros dependurados nas paredes de seu atelier e notei que apresentavam uma grande diferença com relação aos que havia visto na exposição dos 500 ANOS, nas continuavam com grande vigor. Um colorido, às vezes, algo impregnado. Citações, como a do "Caipira picando fumo" de Almeida Júnior, tema recorrente, recriado e identificado com o Jeca do Mazzaropi/Lobato. Dos cartões ao duratex, agora pinta em telas preparadas pelo sobrinho. Pedi para fotografá-lo, no que recebi prontamente a resposta afirmativa. Fiz 28 fotos, boas em sua maioria. Consegui comprar seis de seus quadros e ganhar uma pintura sobre cartão. Enquanto fotografava, o pintor continuava em sua faina de mostrar coisas à Heloísa por quem ficou encantado. Sua alegria infantil era de admirar.
            Disse seu sobrinho que Ranchinho (Sebastião Theodoro Paulino da Silva) nasceu em Oscar Bressane, em 07 de janeiro de 1923, mas certos dados estão envolvidos na incerteza. Theodoro, nome grego, significa dom, dádiva, presente de Deus - ou dos deuses - e é o que ele é: um presente que Deus deu a nós mortais, para enriquecer visualmente com suas pinturas as nossas vidas (Sebastião, também de origem grega, significa augusto, magnífico, venerável.Sebastião Theodoro= magnífico presente de Deus!) .
            Foi, para mim, uma grande alegria saber que ele estava vivo. Conhecê-lo e relacioná-lo com o trabalho que fez e faz, levou-me mais uma vez a acreditar em milagres. Ranchinho pintor: presente de Deus. OMAR KHOURI

 

 


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