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SANTAELLA: A PADROEIRA DA SEMIÓTICA

             

            Conheci Lúcia Santaella lá pelos idos de 1975, através de minha grande amiga Samira Chalhub: ambas lecionavam na PUCSP e, como Maria Rosa Duarte de Oliveira e Dirce Ceribeli, eram docentes incomuns: eram capazes, em suas aulas, de ousadias teóricas e de abordagem de textos extraordinariamente avançados, o que ninguém ainda fazia no Brasil. Sendo professoras da área de Letras, traziam para as aulas poemas do grupo dos concretistas, o que dava um colorido especial às letras puquianas de São Paulo e fazia dos alunos pessoas com repertório mais amplo, elevado, refinado e arejado. Repertório distinto no Brasil. Pois é, Maria Lúcia Santaella desde cedo mostrou-se ousada: um (a) intelectual tem de ter coragem. Se Lúcia (é assim que gosta de ser chamada de uns anos para cá) já possuía uma disposição para a polêmica, isto se acentuou depois de inúmeros cursos feitos como aluna na Pós da PUCSP (então, Teoria Literária), com o poeta Décio Pignatari. Grande professor-poeta-teórico. Brilhante a aluna que, dado o devido tempo, tomou rumo próprio para se tornar grande conhecedora da Semiótica peirceana - introduzida no Brasil por seu mestre Décio Pignatari - a maior do Brasil e uma das maiores do mundo, sendo muito respeitada lá fora, onde tem participado de praticamente todos os grandes congressos, discutindo de igual para igual com os maiores especialistas. Ela é até mais ousada, pois, sendo grande comentadora, vai além, apontando importantes desdobramentos da teoria geral dos signos. E o que a diferencia, é o fato de não se limitar ao campo da Semiótica - o que já seria demais - mas interessar-se por Comunicação, Mídias, Artes, que ela conhece em profundidade, desde a poesia, passando pela pintura, até a música e as faturas multi e intermídia, que têm caracterizado a Arte ultimamente. É brincadeira falar da produção intelectual de Lúcia Santaella: professora e conferencista na Pós-Graduação em Comunicacão e Semiótica, que ela ajudou a criar e se empenhou para que se tornasse um dos programas de Pós mais conceituados e produtivos do Brasil, orientou dezenas de pesquisas (talvez que ninguém em nosso país tivesse tido um númeuro tão alto de comandos de defesa pública de Dissertações de Mestrado e Teses de Doutorado). Livros teóricos: mais de duas dezenas, em que o assunto soberano é a Semiótica de Charles Sanders Peirce. Santaella é hoje uma das maiores inteligências do Brasil e isto porque ela sempre a cultivou - inteligência é coisa que se cultiva. Sempre teve uma capacidade de trabalho incomum e uma determinação admirável. Um fato ocorreu recentemente, o qual vem a comprovar a determinação e o empenho de Lúcia (quando ela se propõe a fazer algo, vai até o fim):  na manhã do dia 20 de agosto de 2001, uma segunda-feira, na FAAP, daria uma conferência, espécie de Aula Magna de abertura do semestre, com o tema Comunicação e Semiótica. Mal começou a sessão, acabou a energia elétrica no Bairro, o que não pôde ser contornado pela luz de emergência. Não deu outra: ela pediu silêncio, pois assim, falando alto como era capaz, todos no auditório poderiam ouvi-la. E foi o que aconteceu: mesmo no escuro ela falou tudo o que teria de falar e brilhantemente, como são brilhantes as suas aulas. Conhecendo-a de longa data, como aluno da Pós e seu orientando no Mestrado e no Doutorado, eu sabia que ela não deixaria por menos. Falou menos de Semiótica e mais da Comunicação Humana, mais uma fala de quem pensa semioticamente o mundo. O que ela sabe não a deixa satisfeita: continua pesquisando como há vinte e cinco anos. A nossa Santa padroeira da Semiótica. A Santaella.

Em tempo: Lúcia desenvolve há muitos anos um trabalho de prosa ficcional, o qual mantém inédito e quase que em segredo. Em 1975 já havia escrito uma longa prosa - um romance? - experimental, que permaneceu inédita. Espero que ela venha a publicar - e logo - esse texto que, certamente, revelará o seu lado de artista da palavra. OMAR KHOURI

 


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