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SEMIÓTICA
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O SIGNO NA SEMIÓTICA PEIRCEANA

 

Já me referi à Semiótica peirceana (Teoria Geral dos Signos, do filósofo estadunidense Charles Sanders Peirce, 1839-1914: exato contemporâneo de nosso Machado de Assis - 1839-1908 - tendo inclusive coisas em comum com o autor do Memórias póstumas de Brás Cubas, como a admiração por Edgar Allan Poe. Peirce foi um grande pensador e um escrevedor compulsivo, que deixou mais de cem mil páginas, muitas das quais permaneceram manuscritas. Falei dele e de sua Semiótica, a propósito do signo FOTOGRAFIA, como sendo um índice, com fortes traços de iconicidade. Agora, aos poucos, falarei de tópicos importantes dessa teoria.

SIGNO. Alguns pensam que signo só tem a ver com os do Zodíaco. Estes também são signos, mas signo é muito mais do que isto. Signo pode ser tudo: toda e qualquer coisa. Melhor dizendo: tudo pode funcionar como
um signo, pois signo ou representame é tudo aquilo que em certa medida ou sob algum aspecto, representa alguma coisa para alguém (o signo representa alguma coisa, substitui-a, está no lugar da coisa). Tal
entidade (signo) cria na mente de alguém um signo equivalente ou melhor desenvolvido, ao qual Peirce chamou de interpretante do primeiro signo (não confundir com o intérprete, que é aquele 'alguém', o leitor, a inteligência que se debruça sobre o signo para lê-lo, para decodificá-lo). O interpretante é parte do signo e diferere um pouco do significado do signo língüístico de Ferdinand de Saussure, diferentemente, do signo saussuriano que se apresenta como uma entidade dúplice, formada por uma imagem acústica (significante) e um conceito (significado), o signo peirceano envolve três partes, das quais já me referi a duas. Bem, voltando ao assunto: o que é que o signo representa? O seu objeto, não sob todos os aspectos, pois um signo não tem por função cobrir o objeto, mas representá-lo. O signo representa o seu objeto segundo o seu fundamento, ou seja, o que
fundamenta um signo pode fazer com que ele se assemelhe ao objeto (sendo um hipo-ícone), com que haja uma conexão dinâmica com o objeto (índice) ou que o signo esteja fundamentado numa convenção (símbolo).
Esse objeto que está fora do signo, mas que o determina e, portanto, o signo o representa é o objeto dinâmico e está em algum lugar do passado, pois já determinou o signo. O signo tem um outro objeto, que é o objeto imediato: que é como o objeto dinâmico está presente no signo (isto se assemlha um pouco ao significante saussuriano).

Quando se fala em signo, já se inclui objeto e interpretante. O tal objeto dinâmico pode ter uma existência real ou fictícia. No caso da fotografia, por exemplo, o fundamento será a conexão dinâmica, portanto, o objeto dinâmico da fotografia, assim como o dos demais índices, será sempre um existente.
Há três tipos de interpretante: 1. interpretante imediato: é tudo aquilo que um signo poderá suscitar numa mente interpretadora, é a interpretabilidade do signo; 2. interpretante dinâmico: o que, de
fato, é suscitado no intérprete, é o desdobrar de um signo pela ação da leitura, que desencadeia a semiose (ação do signo, processo de significação) - dependendo do repertório do leitor eu terei uma
leitura mais ou menos satisfatória: ele poderá ficar apenas no nível do interpretante dinâmico emocional, mas poderá empreender um esforço, gastar uma energia considerável, para chegar ao interpretante dinâmico
lógico, ou seja, dar respostas satisfatórias quanto à leitura daquele signo ou complexo sígnico. Porém, ele, nesse processo conhecido como semiose, estará sempre no meio do caminho. O intérprete/interpretante
dinâmico encontram-se no presente; 3. interpretante final: estará sempre no futuro, como uma meta a ser alcançada. Nunca se chega ao interpretante final, que equivaleria à verdade absoluta, muito embora,
às vezes, se tenha a ilusão de ter chegado lá - daí arrisco um "interpretante final temporário", pois logo será desbancado por novas leituras. Não se chega ao interpretante final, à verdade absoluta, mas podem-se alcançar parcelas satisfatórias de uma vedade maior sempre a ser atingida. Então, no passado, temos o objeto dinâmico, no futuro o interpretante fianal e, no presente, o intérprete/interpretante dinâmico.

A definição, o conceito de Signo de Peirce (em verdade ele cunhou inúmeras, umas mais complexas que as outras, que não chegam a ser contraditórias) é a mais geral possível e comporta signos das mais
diversas naturezas, de todas as linguagens. Muito útil para leitores especiais dos signos a noção de interpretante, que vai de tudo o que o signo possa despertar no leitor, passando pelo que de fato desperta,
até à verdade - interpretante fianal, caso a semiose se esgotasse. Os signos, principalmente os que veiculam informação estética, são o melhor exemplo para que se certifique de que muitas leituras - desde
que fundamentadas podem ser feitas de um mesmo complexo. A teoria também pode dar prazer àqueles que têm a sede de ler de modo mais conseqüente o Mundo! OMAR KHOURI
 
 

 


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