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TRADUÇÃO
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TRADUÇÃO

 

Tradução pode ser considerada um expediente que viabiliza um processo de comunicação verbal e nós, no dia-a-dia fazemos traduções o tempo todo, sem nos darmos conta disso, muito menos nos preocupando com teorias. Mas elas existem e são importantes, tanto é verdade, que há quem delas se ocupa em tempo e dedicação exclusivos. Por pensar a linguagem, o código, toda operação tradutora é também uma operação metalingüística. Segundo o pensador da linguagem Roman Jakobson (em um célebre ensaio: "Aspectos lingüísticos da tradução") há três tipos fundamentais de tradução, a saber:

1. tradução intralingual ou reformulação, como acontece nas paráfrases, por exemplo, nas adequações repertoriais ou, mesmo, barateamentos (kitschização);

2. tradução interlingual ou tradução propriamente dita - de um idioma para outro. Do grego antigo para o português, por exemplo; e

3. tradução intersemiótica ou transmutação, quando a operação consiste na passagem de uma obra, de um código para outro. (Esse terceiro tipo foi desenvolvido à luz da Semiótica peirceana por Julio Plaza, em um estudo que se constituiu em sua tese de doutorado.)

Versando sobre as dificuldades da tradução interlingual, Jakobson chama a atenção para a impossibilidade de tradução de textos poéticos, a não ser que haja uma re-criação, ou mesmo, uma transmutação. O grande problema que se coloca quando o texto a traduzir é poema é o de se entregar, após o labor da tradução, também uma obra de arte no novo idioma. Ou seja: um poema é uma obra de arte e o tradutor, ao fim de seu labor, deverá entregar, também, uma obra de arte. Daí que o tradutor de poesia deva ser - preferentemente - um poeta.

Há quem encare a tradução de poesia como uma categoria da criação (nesse afazer, paira a figura de Ezra Pound acima de todas): é o caso dos irmãos Haroldo e Augusto de Campos, tradutores de poesia (só traduzem peças por eles escolhidas) nos últimos cinqüenta anos. Haroldo fala em transcriação. Augusto prefere tradução-arte. Haroldo de Campos, nosso maior teórico da tradução de poesia diz que a obra traduzida deverá ser autônoma e recíproca, Ou seja: a obra resultante de tradução deverá ter autonomia como obra de arte e trazer consigo a memória da obra que a motivou - o original. Fala, também, em lei da compensação: o que o tradutor - em sua busca de equivalentes formais - perder num certo ponto, compensará em um outro. isto tudo sem a perda da dimensão semântica.

Obviamente, a melhor maneira de apreciar poesia é o exame dos originais, porém há traduções que vêm a enriquecer a tradição poética, na qual desembocam. É o caso de tudo o que os Campos, Haroldo e Augusto, irmãos do Concretismo têm feito: de Homero a Cummings, passando por Arnaut Daniel, Dante Alighieri, Donne e Mallarmé. Esses poetas-tradudores, repudiam e contrariam a máxima traduttore tradittore. Também mostram que, diferentemente do que disse Robert Frost - poesia é aquilo que se perde na tradução - a poeticidade pode migrar de um idioma a outro, quando quem faz o trabalho procura equivalências e tem a tarefa como uma categoria da criação.

Vejamos um exemplo desse trabalho numa peça de Augusto de Campos: recriou em português - sem perder o que havia de essencial na peça em inglês: a efemeridade do processo vida - texto de Edward FitzGerald (poeta inglês do século XIX- 1809-1883) apresentado, por sua vez, como tradução de um rubai (dos Rubaiyat) de Omar Khayyam. Seguem os textos inglês e portugês do Brasil:

Edward FitzGerald
 
Oh threats of Hell and Hopes of Paradise!
One thing at least is certain - This Life flies;
One thing is certain and the rest is Lies;
The Flower that once has blown for ever dies.
 
Augusto de Campos
 
Inferno ou Céu, do beco sem saída
Uma só coisa é certa: voa a Vida,
E, sem a Vida, tudo o mais é Nada.
A Flor que for logo se vai, flor ida.
 
OMAR KHOURI



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